terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Pequenas e Grandes Alegrias do Magistério - Celso Vasconcellos







O cotidiano do professor é muito desafiador. Sua atividade didática exige um trabalho antes e outro depois, além do durante a aula. A sociedade pede do professor que, além das suas tarefas básicas, esteja também atento às questões da sexualidade, gravidez na adolescência, drogas, consumo, trânsito, conservação do meio ambiente, educação para a paz, educação alimentar, financeira, empreendedora, sem contar os casos em que tem que dar educação básica como hábitos de higiene e civilidade.
Diante disto, poderíamos indagar: por que ainda tantos/muitos querem ser professores? É que no exercício do magistério existem também as satisfações, as realizações, as alegrias. Dentre as pequenas alegrias podemos citar: facilidade para se formar professor; flexibilidade do horário de trabalho, maior tempo de férias, oportunidade constante de trabalho (emprego sempre tem, e ainda em todo lugar, possibilitando a mudança de cidade); o salário, muitas vezes, não é grande coisa, mas chega todo mês; possibilidade de ter mais de um emprego, estabilidade ou muita dificuldade para ser demitido; sempre há uma plateia à sua frente na sala de aula; aposentadoria com menos tempo de serviço, aposentadoria com salário integral. Já num nível intermediário, podemos citar o reconhecimento social: o professor é um dos profissionais, junto com bombeiros e médicos, em que a população mais confia. Dentre as grandes alegrias, elencamos: 
nEncontro humano: o magistério nos permite trabalhar com gente, permite-nos o relacionamento com crianças, jovens e adultos, com suas dificuldades e dramas, é certo, mas também com seus sonhos, com suas fantasias, com suas trajetórias, com suas riquezas, com suas formas peculiares de ser, enfim, com seus mistérios (daí o sentido da reverência diante do outro). Existem, por exemplo, grandes publicitários que não deixam de dar aula para se alimentarem da energia, da criatividade das novas gerações. Nós estamos cada ano mais velhos; nossos alunos, no entanto, estão nos chegando sempre mais ou menos com a mesma idade. Isto, com certeza, permite uma renovação, nos desafia a manter diálogo com novas formas de ver e estar no mundo;
nTrabalho com o conhecimento: para exercer a contento nossa atividade, precisamos continuar aprendendo ao longo da vida. Ora, o conhecimento dá um grande prazer; Freud chegou mesmo a compará-lo com o prazer sexual (é claro que estamos falando de construção de conhecimento e não de mero acúmulo de informações). Uma professora dizia: “Adoro minha profissão, pois às 7:30h. na manhã estou trabalhando com aquilo que mais gosto: a Literatura”;
nEnsino: o magistério possibilita o prazer de exercer uma atividade com alta relevância social: a formação humana, a educação (=Humanização) através do ensino, base da cidadania, da democracia. Propicia o prazer de ensinar, de ver o outro aprender com nossa mediação (é o outro quem cresce —por mais que goste de um aluno, não posso conhecer por ele—, mas com nossa ajuda). Preparamo-nos a vida toda para ser o profissional que somos hoje; dedicamo-nos a estudar, pesquisar, determinada área do conhecimento humano; agora, na sala de aula, percebemos que aquilo que faz tanto sentido para nós, faz sentido também para outras pessoas, com as quais talvez nunca tivéssemos encontrado antes. Nada se compara com a satisfação de encontrar um antigo aluno e ouvir aquela carinhosa e significativa saudação: “Professor...” Neste momento, temos a certeza de que deixamos uma marca (ensino vem do latim insignare, pôr um sinal —signum—, marcar com sinal, dar a conhecer). Dessa forma, o magistério favorece a experiência radical de ser coautor da criação. O professor, assim, não morre jamais (Alves).[1]


[1].Um fato recente na rede de ensino da cidade de São Paulo é revelador: foi desenvolvido um projeto com alunos monitores de informática. Um dos objetivos básicos era propiciar o protagonismo juvenil. Ao término do projeto, emergiu algo surpreendente: vários destes jovens manifestaram o desejo de ser professor. Tinham experimentado justamente este prazer de ensinar...

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